Sem alarde, mas seu cérebro está encolhendo

Embora evolução leve milhares, às vezes milhões de anos, algumas alterações nas espécies podem ser observadas em poucas décadas. Quando uma característica é afetada por fatores genéticos e ambientais, essas alterações se tornam evidentes. Uma das mais populares é a variação de altura entre humanos.

Com 18 mil anos atrás a altura média dos humanos na Europa Oriental era de 178 cm, mas com o fim da era do gelo as mudanças climáticas dizimaram espécies e a dieta das populações foi afetada. Corpos grandes capazes de armazenar grande quantidade de energia não eram mais vantajosos, corpos menores e mais ágeis faziam mais sentido.

Isso provocou uma queda na altura média das pessoas que só foi revertida em 4.000 AC, passando por vários altos e baixos causados por epidemias e grandes momentos de escassez de alimentos, mas em 1.870 algo mudou.

Os frutos da Revolução Industrial começaram a aparecer, grandes obras de saneamento, fartura econômica, mecanização da agricultura e acesso a alimentos mais baratos fizeram com que crianças, em seus primeiros anos, se alimentassem sem restrições.

E isso não foi só na Europa industrializada, no mundo inteiro o efeito foi sentido, os humanos como um todo são bem maiores hoje.

Essa tendência entretanto não está escrita em pedra, a Melhor Coréia vinha numa fase de crescimento desde o final do século XIX, mas as crises de falta de alimentos causadas pelo governo criaram um país de gente magra e mirrada, por subnutrição nos anos de formação os norte-coreanos são em média 8 cm menores que o pessoal da Pior Coréia, e isso em valores oficiais.

Se a altura é uma característica que muda muito rápido de acordo com o meio-ambiente, uma mudança mais impressionante ainda aconteceu uns 3 milhões de anos atrás: um ancestral nosso especialmente esperto resolveu que salada não leva a nada e provou um bicho, provavelmente morto já que todos os proto-humanos até então eram vegetarianos e vegetariano em língua indígena significa "caçador ruim".

Quando mudamos nossa dieta para carne, nos tornando onívoros, passamos a ter uma fonte de proteína muito mais concentrada, podíamos comer e descansar, sem ter que ficar o dia inteiro literalmente pastando, como organismos que consomem vegetais.

Em muito pouco tempo crianças com cérebros maiores deixaram de morrer de fome, e como cérebro maior -a grosso modo- significa mais inteligência, essas crianças se tornaram adultos mais capazes, e bons reprodutores.

A abundância de energia provida pela carne era essencial: o cérebro pesa 2% do total do corpo humano, mas consome 25% da energia, não teríamos como manter esse bicho funcionando só com mato.

Um gorila pesa em média 150Kg, mas sua dieta é quase exclusivamente vegetariana, seu cérebro não pode se dar ao luxo de crescer muito, para tristeza do General Urko.

Conforme a pesquisa da Suzana Herculano mostrou, o tamanho do cérebro em si não significa nada, a relação mais importante é entre o tamanho do cérebro e a massa corporal, e em determinado momento algo mágico aconteceu. O cérebro primata desenvolveu consciência. Passou a perceber a si mesmo como indivíduo, deixou de ser uma caixa de instintos e controles de comportamento e começou a... abstrair.

Com o tempo livre que ganhamos ao não precisar procurar comida o tempo todo, nossos cérebros começaram a inventar ferramentas, modificar nosso ambiente.

O crescimento do cérebro nesses últimos milhões de anos foi quase exponencial, o ganho de inteligência compensou características que em outras espécies garantiriam a extinção: o longo e complicado trabalho de parto e o mais longo ainda período em que o infante é absolutamente inútil e indefeso, que na nossa espécie vai do nascimento até uns quatro anos depois do pimpolho terminar a faculdade.

Agora a parte confusa: o auge do tamanho do cérebro humano não veio com o Homo Sapiens Sapiens, mas com os... neandertais. A média do volume cerebral deles era de 1,6 cm3, contra 1,273 cm3 para humanos modernos.

Nos últimos 40 mil anos nossos cérebros vêm diminuindo. e mesmo os genes de neandertais que a maioria dos humanos carregam não reverteram essa tendência, que já reduziu o danado em 10%.

Aí você pergunta... mas Cardoso, se a relação volume cerebral/peso corporal é quase a mesma entre humanos e neandertais, isso não quer dizer que eles eram mais inteligentes que a gente? Como pudemos exterminá-los?

E eu respondo:

Inteligência é algo muito superestimado.

Claro que é útil você saber caçar, construir armas e repassar esse conhecimento para outros da tribo, mas biologicamente falando não é essa Coca-Cola toda ser extremamente inteligente, qualquer animal sobrevive bem melhor na floresta do que um humano, nossa inteligência ajuda quando tudo vai muito bem, quando rola qualquer crise maior, qualquer guerra mais séria, volta a valer a Lei do Mais Adaptado, antiga Lei do Mais Forte.

Isso por si só contribuiu para manter o nosso cérebro num tamanho razoável, instintivamente as fêmeas da espécie preferem o Jason Momoa ao Stephen Hawking, e como a Tina Fey bem falou, ela é coberta de elogios, mas na hora H os homens preferem a Jessica Simpson.

Uma hipótese adicional foi apresentada por Brian Hare, do Departamento de Antropologia evolucionária e Centro de Neurociência Cognitiva da Universidade Duke, no paper Survival of the Friendliest: Homo sapiens Evolved via Selection for Prosociality.

Ele defende que assim como gatos, humanos passaram por um processo de auto domesticação. Quando nos tornamos criaturas (mais) sociais, muito do que nos ajudou a sobreviver no mato deixou de ser vantajoso. Macacos grandes e raivosos não funcionam bem em bandos.

Humanos mais calmos e gentis eram bem-vistos e acabavam deixando mais descendentes, criamos o Homo Nice Gayus, somos todos descentes do Nick Ellis.

Essa predileção acabou favorecendo humanos menores, menos agressivos, com uma balança hormonal diferente, e isso afeta um monte de coisa, inclusive desenvolvimento cerebral. Acabamos trocando uma inteligência um pouco maior pela capacidade de viver em sociedade.

Um grupo de Homo Sapiens altamente comunicativos operando de forma cooperativa consegue vencer um grupo de Neandertais mais inteligentes, mas mais individualistas.

O que pode ser preocupante é se a tendência se mantiver. É o tipo de coisa complicada de se medir em poucas décadas, e não se sabe se essa redução, se ainda existir, chegará a um ponto de estabilidade. O universo não parece ter muito uso pra inteligência, mas ao mesmo tempo ela alterou completamente a seleção natural. Hoje gente que morreria sem nem pensar duas vezes, 200 anos atrás levam vidas normais, estamos vivendo mais e melhor.

Ou seja: Estamos num paradoxo onde tecnicamente nossos cérebros vêm ficando menores a cada ano, mas nosso sucesso como espécie só aumenta. Isso talvez justifique as utopias de ficção científica onde todas as sociedades perfeitas, sem crime, fome ou doenças, parecem meio lentinhas e ingênuas para o pessoal de fora.

Fonte: Discovery Magazine / MeioBit

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